Eis o problema nº 3 do Torneio Comemorativo de Mistério Policiário, A morte do traficante, da autoria de Paulo.
Prova nº 3
A morte do
traficante
Autor: Paulo
Este
foi mais um dos muitos casos onde marquei presença com a minha participação. Era
eu o chefe da equipa da Polícia Judiciária encarregada do caso.
A
vítima era um conhecido traficante de cocaína, Alfredo Ramos, um homem baixo, de
um metro e setenta, 46 anos, cabelo bem preto, olhos castanhos, ausência total de
empatia, e pessoa sem qualquer escrúpulo.
Apesar de
estar sujeito da nossa parte a uma grande vigilância, tinha sido assassinado
bem perto dos nossos homens, sem eles verem, e, portanto, sem eles poderem
intervir.
*****
Fui
conversando com o médico enquanto ele fazia a autópsia. Eu já o conhecia de
muitos outros casos. Era o Gilberto Gomes.
– Foi
um projétil de calibre 38. Revólver. Observa bem o orifício de entrada.
E eu
vi. Era bem visível, logo acima dos olhos, bem centrado na fronte. Também vi
perfeitamente uma lesão com bordas irregulares, invertidas, ou seja, voltadas
para fora, e uma impregnação centralizada de pólvora.
Não
gostava muito de ver aquele cenário, mas fora ficando habituado com o decorrer
dos anos. Entretanto o Gilberto cortava a cabeça para poder visualizar o seu
interior.
– E
quanto à trajetória da bala – perguntei?
–
Sempre horizontal – respondeu. Isso está de acordo com o impacto observado na
parede.
– E já sabes se ele estava de pé, de joelhos,
sentado, ou em qualquer outra posição?
–
Estava de pé. Todos os indícios apontam para essa posição. Um deles é a queda.
A cabeça terá caído, desamparada de cerca de um metro e setenta centímetros,
fazendo um fratura óssea na nuca.
– Então,
caiu para trás.
– Neste
caso, foi! Geralmente vemos, nos filmes, as pessoas a levarem um tiro e a morrerem
imediatamente. Nunca é assim, ou melhor, quase nunca, porque nesta situação até
foi. Um tiro na cabeça levou a uma morte instantânea. E a energia cinética do projétil fê-lo tombar imediatamente para trás.
Vendo como
Gilberto Gomes continuava de volta da cabeça, eu perguntei:
– E na
nuca?
O
Gilberto observava a parte detrás da cabeça, onde uma outra ferida, maior do
que a da fronte, mostrava a trajetória do projétil: a entrada e a saída.
De
instrumento de medida na mão, Gilberto dizia:
– Vês?
A distância ao topo da cabeça é a mesma na entrada e na saída, e bate certo com
o impacto do projétil na parede.
O
Gilberto tinha deixado a cabeça e dedicava-se ao abdómen, onde fizera os
característicos golpes necessários para a verificação das diferentes vísceras.
–
Comida no estômago! Tinha feito uma refeição, não havia muito tempo, e estava a
fazer a digestão. Vou mandar para análise o conteúdo. Depois, podes fazer a comparação
com outros relatórios e decidires sobre a hora do crime.
Continuou
a falar, e eu a fingir atenção, mas tudo entrava a cem e saía a duzentos, porque a
minha cabeça estava noutros locais, juntando todos os pormenores e escrutinando
os suspeitos.
*****
Sentado
à secretária, eu olhava uma folha manuscrita com alguns elementos respingados
dos vários relatórios entretanto recebidos.
“Não foi encontrada nenhuma arma de
fogo no local, nem nenhuma cápsula”.
“ A vítima estava caída de costas”.
“A queda para trás deixara a vítima
com a cabeça a 5 cm da parede”.
“Havia muitas impressões digitais de
Alfredo espalhadas pelo local do crime”.
“ Havia também algumas impressões da
empregada da limpeza e de outras duas pessoas que no dia anterior tinham estado
lá em casa”.
“O cadáver fora descoberto no dia 16
de fevereiro, cerca das nove e meia da manhã, quando a empregada de limpeza
marcara presença no local. Ela tinha as chaves necessária para entrar na casa”.
"A empregada encontrara a porta da casa apenas encostada".
“A primeira análise, baseada nas
temperaturas corporal e ambiental, apontara para a ocorrência do óbito na noite
anterior, dia 15, entre as 9 e as 11 da noite”.
“A vítima vivia numa casa que estava permanentemente vigiada”.
“Na noite do crime, no intervalo
temporal em que presumivelmente ocorrera a morte, tinha havido quatro as
pessoas a entrar na casa da vítima, ou melhor, no seu quintal. Todos eram conhecidos da polícia, pelas
atividades exercidas, todas na margem da legalidade”.
“Nenhum dos visitantes, à saída,
demonstrara qualquer anormalidade no comportamento, situação expectável
daqueles suspeitos”.
“Alfredo era o responsável por um
carregamento de cocaína intercetado por nós, e por isso estava a ser
vigiado, para ver se encontrávamos mais algum dos chefes”.
“ A mercadoria, em elevada
quantidade, e por isso muito valiosa, pertencia a outro traficante. Não era do
Alfredo”.
“A vítima falava e escrevia fluentemente
inglês e alemão, embora quando escrevesse para os alemães, ou estes o fizessem
no sentido inverso, a comunicação fosse em língua inglesa”.
" A porta da casa foi encontrada apenas encostada pela empregada".
*****
Peguei
num outro papel onde tinha a descrição dos quatro indivíduos suspeitos. Todos eles tinham
entrado na casa e entre eles teria de estar um assassino.
“Meyer estava longe de ser um alemão
típico. Media só um metro e cinquenta e cinco centímetros, apesar de muito
louro. Era aquilo que normalmente se designa por pessoa má. Não tinha
escrúpulos de qualquer espécie. As suas estadias no nosso país eram irregulares.
Na véspera quando visitara Alfredo, fora visto entrar com luvas”.
“Hans também era alemão. Este já
parecia pertencer à nacionalidade germânica. Com mais de um metro e oitenta de
altura, tinha olhos azuis e cabelo louro. Escrúpulos, também não possuía, como
o demonstravam as muitas atividades de legalidade duvidosa onde estava
envolvido, e também comparecera de luvas na casa da vítima. Vivia em Portugal
havia quatro anos”.
Continuei
a ler as informações. Agora sobre os dois estadunidenses.
“Campbell era natural do estado do
Minesota. Alto, com um metro e noventa e cinco, parecendo um jogador de
basquetebol, entrara na casa com luvas colocadas. O cabelo preto, curto, ornava
uma cabeça onde se ocultava um cérebro capaz de magicar as mais incríveis
manigâncias. Não falava português, como era próprio dos nativos de língua
inglesa”.
“Simon era natural de uma cidade
grande: Chicago. Talvez, por causa da sua origem, se julgasse um grande
gangster. Cabelo castanho, assim como os olhos, marcavam um rosto onde se
desenhava a inocência de uma criança. O seu metro e cinquenta e sete de altura ajudava
a compor este aspeto infantil. Mas tudo era fictício. Era um homem duro. Havia
já três anos, assentara arraiais no nosso país e era bem conhecido por todas as
autoridades policiais. Para não variar, visitara a vítima usando luvas”
*****
Pousei
o papel e pensei noutros pormenores. A apreensão da droga ocorrera dez dias
antes, e verificara-se, no comportamento de Alfredo, uma elevada preocupação.
Conseguíramos capturar uma carta que ele iria receber de um dos suspeitos.
Peguei na carta e depois vi alguns excertos, já traduzidos, à letra, da missiva original,
escrita em inglês.
O
sobrescrito não tinha remetente nem impressões digitais, assim como a carta
estava completamente limpa. Tudo apontava para o seu autor ser também o
assassino e traficante. A escrita da missiva era motivada pelo facto de Alfredo
não poder pagar, nem conseguir, a enorme quantia em dívida. Por isso nós o
vigiávamos. Haveria o um contacto, disso nós tínhamos a certeza, mas nunca
imaginamos o assassino a correr tantos riscos.
Ou o
assassino tinha sido o quarto a entrar na casa, ou todos, ou alguns, sabiam
fingir muito bem uma tranquilidade inexistente, tendo vindo embora quando
encontraram o cadáver.
Entraram todos pelo portão do quintal de muros altos, mas lá dentro
não se sabia se tinham ingressado na casa ou ficado à porta. Não era possível ter
visto, apenas havia a certeza, porque a casa tinha vigias em todo o seu perímetro, de
que mais ninguém passara para o quintal da casa.
“Estou preocupado”. “Tem uma semana
para me devolver o dinheiro”. “Até poderiam ser 3 mil milhões, 4 mil milhões ou
100 mil milhões”. “Quero os meus 4 milhões”. “ “A culpa da apreensão foi sua”.
“Não tratou do assunto devidamente”. “Se não pagar, morre”. “ Já sabe qual será
o seu destino se eu não receber o dinheiro,”
Como era
óbvio, o dinheiro não fora devolvido.
A
Luísa, uma colega de trabalho constituinte da equipa de investigação,
aproximou-se.
– Então, já se sabe mais alguma coisa?
– Penso
saber quem foi o assassino. Achas pouco?
– E
vais fazer o quê?
– Vou
fazer um relatório e enviá-lo para o Ministério Público. Está nas mãos do
Procurador a decisão a tomar.
*****
O
Procurador decidiu bem e o juiz julgou, pois tudo veio a ser provado em
audiência, apesar de o assassino acabar por confessar. Em tribunal provou-se o
modo como foi cometido o crime. Demonstrou-se a legalidade das buscas, ficou
evidente a necessidade da vigilância, ficou demonstrado ter sido o matador a
escrever a carta, não fingindo ser outra pessoa, revelou-se que uma arma encontrada na
posse do assassino tinha servido para abater a vítima e ficou exposta a
pertença ao homicida da droga apreendida.
*****
Aqui,
interrompe-se a narrativa e pede-se aos leitores, para, com base nas linhas
escritas acima, apresentarem um raciocínio indicador de quem foi o assassino.
ENDEREÇOS E PRAZO PARA O ENVIO DAS RESPOSTAS:
As respostas devem ser enviadas impreterivelmente até às
24h00 do dia 31 de março de 2025, através dos seguintes meios:
a - Por email, correio eletrónico, de A Página dos Enigmas:
apaginadosenigmas@gmail.com;
b - Entregando em mão ao orientador do Blogue A Página
dos Enigmas, Paulo, onde quer que o encontrem;
c - Utilizando o Correio Normal (CTT):
Luís Manuel Felizardo Rodrigues
Praceta Bartolomeu Constantino, 14, 2.º Esq.
FEIJÓ 2810 – 032 ALMADA.
Nota:
Além dos prémios em disputa ao longo do torneio, serão
sorteados em cada problema os seguintes prémios:
- 1 Livro de
Problemas Policiários e Soluções de M. CONSTANTINO, oferta de Salvador
Santos, juntamente com um Bloco de Apontamentos da Tipografia Lobão, oferta de
José Silvério, para sortear entre os concorrentes totalistas.
- 1 Conjunto de 12
Postais Ilustrados de Montemor-o-Novo, oferta de Francisco Salgueiro, para
sortear entre todos os concorrentes não totalistas.
Neste problema ainda serão atribuídos os seguintes prémios,
ofertados pelo autor.
Concerto a quatro
mãos, atribuído à solução totalista que tiver menos palavras.
Os caminhos de Idalécio,
a sortear entre todas as soluções não totalistas.