Torneio Rápido Problema nº 4
O Mistério das joias roubadas
Autor: Paulo
Narciso Morais olhou o relógio que marcava dezassete e dez. Depois, deu uma corrida desde o carro até à porta da casa, aproveitando o facto do portão que dava para a rua estar aberto. Tentava, assim, poder fugir à chuva que desde a véspera à noite insistia em cair. Meia hora antes, quando saíra da sede, o sol tinha feito uma visita e ele avançara sem guarda-chuva, mas a chuva, na forma de chuvisco incomodativo, voltara, e agora teria que aguentar com ela sem proteção alguma.
A casa ficava numa zona relativamente isolada, rodeada por um pequeno muro, fácil de transpor. A envolver a casa existia um jardim com canteiros bem tratados, o que decerto traria custos elevados para o proprietário da vivenda. Da rua até à porta havia um pequeno caminho calcetado com pequenas pedras de granito, cravejadas no chão de terra.
Ainda antes de bater à porta,
Narciso Morais decidiu perder o medo à chuva e avançar pelo passadiço de
grandes pedras, de um tipo inidentificável para ele, que contornavam a casa
junto das paredes da mesma. Do lado direito da casa, alguns arbustos e canteiros enchiam o
terreno, mas, nas traseiras, onde chegou depois de percorrer a parede lateral, a paisagem era diferente. O chão em terra mexida
recentemente, mas perfeitamente liso, ocupava quase todo o espaço.
Provavelmente teriam andado a semear relva. Ao fundo era visível uma pequena
arrecadação com a porta aberta, e no muro lateral havia uma churrasqueira em tijolo.
Encostada à parede da casa estava uma escada metálica, com a base apoiada na
terra e o topo embatendo no parapeito de uma janela do 1º andar. Via-se bem que
se tratava de uma escada com pouco uso, ainda com o metal brilhante, sem
marcas de desgaste ou lixo, apenas com o brilho embaciado pela água que a
cobria.
Debaixo da escada, por sobre o
passadiço, viam-se alguns vidros partidos. Olhando para cima, para a janela, com
mais atenção, Narciso Morais notou que estava aberta, e que era de lá que
provinham os vidros.
Dirigiu depois a sua atenção para o terreno
escuro onde se viam bem marcadas duas séries de pegadas, uma no sentido da
arrecadação e a outra no sentido contrário, com a mesma forma e tamanho.
Continuando a contornar a casa
verificou a existência de marcas de terra no passadiço. Junto da esquina, havia
um monte de terra maior, como se alguém tivesse feito um esforço para limpar o
calçado, e depois essas marcas desapareciam quando se virava a esquina.
A outra zona lateral da casa era
idêntica à parte que ficava do lado oposto, pelo que Narciso Morais não se
demorou em observações, continuando até chegar novamente junto da porta da
casa. Reparou, então, que não havia campainha, pelo que lá teve que se meter à
chuva novamente, ir junto do portão, na rua, e carregar no botãozinho mágico.
A porta foi aberta por um
indivíduo que se apresentou como Jaime Ramos e proprietário da casa. Após as apresentações contou o que se passara.
- Sou médico, estava a trabalhar
no consultório, quando pelas quatro e um quarto a empregada me telefonou a
dizer que tinha havido um assalto cá em casa. Tive que despachar o doente que
estava a consultar e vim imediatamente. Reparei que a janela do meu quarto
estava completamente aberta e que as joias que eu tinha aqui em casa, e que
eram da minha falecida esposa, (sabe que sou viúvo), tinham desaparecido.
- Estavam guardadas dentro de algum cofre?
Notou-se algum embaraço de Jaime
Ramos a responder.
- Não, não estavam. Sabe, nós
pensamos que estas coisas só acontecem aos outros. Tinha as joias dentro de
estojos em gavetas, e nem seguro tinha.
Enquanto falavam, foram subindo e, em cima, dirigiram-se
para o quarto onde fora cometido o roubo.
- Quem é que vive nesta casa?
- Eu e o meu filho, que tem 17
anos. É estudante e frequenta o 12º ano. Ainda não chegou a casa.
A desordem era total, com todas
as roupas espalhadas, gavetas abertas e tiradas dos móveis, e alguns estojos de joias
abertos e espalhados pelo quarto.
A janela aberta deixava entrar
algumas gotas de chuva, num chão envernizado e bem limpo.
Não podendo fazer mais nada, enquanto não chegasse o técnico da recolha das impressões digitais, Narciso
Morais pediu para falar com a empregada.
De nome, Margarida, aparentava
ter cerca de trinta anos.
- Ainda não me recompus. Estava
no hall de entrada a limpar o móvel que lá se encontra, quando ouvi vidros a
partir. Fiquei atenta, ouvi um novo som de vidros partidos, espreitei na sala,
na cozinha, e depois subi a correr ao 1º andar, embora confesse que foi uma
imprudência, pois podiam matar-me. Só que na altura não pensei nisso.
Entrei logo no quarto do senhor
doutor, vi o estado em que ele se encontrava e corri para a janela. Ainda vi um
vulto que acabara de virar a esquina da casa, depois de ter descido as escadas.
Fiquei muito aflita e telefonei
ao senhor doutor.
Narciso Morais pediu para dar uma
volta pela casa, o que fez acompanhado pelo médico, não encontrando nada de
relevante.
Havia o quarto do jovem filho do médico com
alguns posters colados pela parede e alguma desarrumação, justificada pelo dono
da casa, que disse que o filho não apreciava muito as arrumações que a empregada
lhe fazia no quarto.
Havia ainda outro quarto, para
visitas, que se encontrava com os
estores fechados.
No rés-do-chão, havia uma grande
sala bem mobilada e com as paredes cheias de quadros, uma cozinha de tamanho
razoável, em estado impecável, e um compartimento que servia de escritório. No
hall de entrada havia um pano de pó, abandonado em cima de um móvel. Todas as
janelas se encontravam fechadas e era impossível abri-las por fora. Na cave,
além da garagem, existia uma lavandaria, com uma tábua de passar a ferro, roupa
dobrada, pronta para ser arrumada, e um cesto de peças de tecido acabadas de secar. Existia também uma arrecadação
com calçado, onde se encontravam uns sapatos de mulher completamente
encharcados.
Embora fosse conveniente efetuar
algumas perícias técnicas Narciso Morais não tinha grandes dúvidas sobre o que
sucedera.
A – O roubo foi efetuado pelo filho do médico, para arranjar dinheiro.
B – O roubo foi realizado pelo médico, pois mente ao dizer que “despachou” um doente e ficou atrapalhado com a questão sobre as joias.
C – O roubo foi feito pela criada
que mente e não conta como os factos se passaram na realidade.
D – O roubo foi cometido por alguém estranho à casa, pois não há indícios de que alguém da casa o pudesse cometer.
A resposta, indicando apenas a letra com a opção correta, deverá ser enviada até ao final do dia 30 de novembro para apaginadosenigmas@gmail.com.
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