Eis o décimo problema do “Torneio do Cinquentenário de Mistério Policiário”, publicado no dia 1 de outubro no blogue Repórter de Ocasião.
Pode ser lido, com a todas as informações necessárias relacionadas, no blogue Repórter de Ocasião, onde poderão consultar os endereços para envio da solução e a lista de prémios.
O regulamento, a indicação de todos os problemas a publicar e a lista de prémios finais do torneio também podem ser vistos aqui.
Que ninguém deixe de marcar presença neste torneio.
Segue-se a reprodução do problema policiário que o Local do Crime publicou.
TORNEIO DO CINQUENTENÁRIO “MISTÉRIO… POLICIÁRIO” – MA/MP (1975 – 2025)
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PROBLEMA Nº 10
Na tasca do Zeferino
de Vic Key
Às sextas-feiras, na Tasca do Zeferino, depois da hora de encerramento, havia sempre tertúlia. Jogo da sueca, petiscos, bom vinho e conversa animada reuniam os quatro amigos de longa data: Alberto, proprietário da única farmácia da vila, leitor apaixonado de clássicos e diários desportivos; João, tranquilo agricultor de pomares e vinhas, fornecedor do melhor vinho da casa; Jorge, carteiro, versejador e fadista amador; e o dono do estabelecimento, que tinha também um dos mais impressionantes bigodes da Freguesia e uma notável colecção de carros antigos.
Como de costume, desde que voltara para Vilar da Pedreira, Frederico, mais conhecido por "Traquitanas", um filho da terra que andara a correr mundo, deixou-se ficar numa mesa, a arrastar a última cerveja e a desfiar as suas fantasias. Já em pequeno era assim, e talvez viesse daí a sua alcunha. O mundo real aborrecia-o um tanto, pelo que se refugiava na sua actividade preferida de químico auto-didacta e inventor independente. Escusado será dizer que poucos o levavam a sério, sobretudo desde que em garoto o seu "aditivo especial para motores a dois tempos" atirou muitas Famel e V5 para a oficina e os seus donos para a troça pública.
Pelas duas da manhã, o "Traquitanas" ainda monologava o seu tópico preferido: o "motor a água"! Os da tertúlia sorriam daqueles devaneios. Menos o farmacêutico, que, de ar pensativo, concentrado no jogo da sueca, sentenciava: "Tanto fala no motor a água, que um dia ainda é raptado a mando de alguma petrolífera!".
Passada uma hora, rumaram a casa, bem bebidos e desopilados, uns mais direitos que outros e o "Traquitanas" muito às curvas, de modo que o grupo ainda o acompanhou com o olhar, não fosse ele cair nalguma ribeira das que atravessam a pitoresca povoação.
O sábado amanheceu lindo, primaveril e ensolarado. Só uma pessoa em toda a vila não estava com disposição para o desfrutar. Pelas onze horas, o Raul, amigo verdadeiro e benfeitor do autoproclamado inventor, foi convidá-lo para almoçar. Fartou-se de bater à porta, sem resposta. Acabou por decidir-se a entrar, não viu o seu protegido e ficou preocupado. E ainda mais quando reparou numa garrafa de cerveja quase vazia, com meia dúzia de pontas de cigarro no fundo, sobre a mesa de trabalho de Frederico, mais conhecido como "Traquitanas", onde se amontoavam os esquemas enigmáticos das suas máquinas e tralhas diversas. Havia duas cadeiras, uma de cada lado da mesa.
A garrafa de cerveja, cinzeiro improvisado, de estranhar em casa de um não fumador, inquietou Raul. A sua primeira ideia foi chamar ajuda, mas ao fim e ao cabo, um homem adulto e celibatário é livre de voltar ou não para casa sempre que bem lhe apeteça.
No entanto, alguma coisa lhe dizia que o seu amigo não se achava fora de livre vontade. Considerou os indícios da teoria que começava a germinar no seu cérebro. De tudo o que estava sobre a mesa do génio incompreendido, chamaram-lhe a atenção os cigarros, que eram daqueles franceses, com o desenho de uma bailarina de flamenco na embalagem azul. A caneta esferográfica, com a inscrição "Ricordo di Venezia" e o desenho de uma gôndola, abonava a favor da sua fama de viajado. Havia ainda um baralho de cartas de jogar de temática de Animais Africanos, a pisar as cartas da zebra, do flamingo e do rinoceronte, viradas para cima, e um frasco ainda por encetar, com um rótulo que dizia “Xarope de Própolis”. A cama da singela habitação de solteiro estava por fazer. Dos projectos e esquemas nada entendeu. Talvez fossem apenas elucubrações de uma mente fantasiosa.
Quando chegou a casa, toda a família lhe estranhou o semblante carregado e a ausência do esperado conviva, que era sempre garantia de entretenimento para as crianças, com histórias mirabolantes e gracejos sempre prontos.
Toda a tarde Raul se atormentou: "E eu que gosto tanto de resolver problemas policiários... em miúdo até participava nos Torneios do “Mundo de Aventuras”, e agora não consigo desvendar este!". Tentou mostrar-se calmo, não quis preocupar a Esposa, mas os pensamentos borbulhavam.
Lembrou-se de levar o xarope ao Alberto da farmácia, que confirmou que o vendera na véspera para tratar a tosse rebelde do "Traquitanas". Ficou muito abalado com a notícia do desaparecimento, e, enquanto Raul se afastava, ainda veio à porta da farmácia gritar, levantando os braços: "Eu avisei que isto havia de acontecer!".
Raul passou pela tasca onde o amigo costumava parar, e todos confirmaram ainda não o terem visto. A preocupação crescia. Mas o nosso homem não desistiu. Já era quase de noite quando, depois de muito remoer, deu uma palmada na testa e correu a chamar a Polícia: "Tenho a certeza de que sei onde está o Frederico!" - dizia ele em voz alta para si mesmo, apressando o passo.
E sabia. Foram encontrar o desafortunado inventor numa certa cave, abandonada, em Vilar da Pedreira, prisioneiro de alguém que queria por força arrancar-lhe o segredo da sua suposta invenção. Estava esfomeado e desorientado, mas resistiu galhardamente.
Diz quem passou recentemente na vila que o famoso motor funciona e está em testes. Se tudo correr bem, Portugal terá alcançado a sua independência energética e Frederico Costa, o "Traquitanas", terá uma estátua na praça principal. E o Raul bem merece figurar a seu lado…
Não contamos aqui como é que o Raul descortinou quem sequestrou o seu amigo, nem revelamos a identidade do criminoso, porque o detective amador de Vilar da Pedreira nos pediu que usássemos a sua aventura para testar o raciocínio dos nossos leitores e recomendar-lhes que se exercitem nos mistérios… policiários!
As propostas de solução devem ser enviadas até ao dia 31 de Outubro para reporter.de.ocasiao@gmail.com ou lumaferoma1958@sapo.pt.
OU:
– Via Messenger, Facebook, mensageiro instantâneo e aplicativo de Luís Rodrigues;
– Por mão própria, diretamente e pessoalmente a “O Gráfico”, em qualquer lugar;
– Via CTT para Luís Manuel Felizardo Rodrigues, Praceta Bartolomeu Constantino, 14, 2º Esq., Feijó 2810–032 Almada.