O ASSASSINATO DO VELHO MILIONÁRIO, de Rigor Mortis
SOLUÇÃO DE AUTOR
– Como assim?! – questionou o inspetor.
De pé, acendeu o cachimbo enquanto olhava intensamente para a sobrinha, sentada
na poltrona.
– Bom… Dos dois, a Susana é a que parece
ter motivos para desejar a morte do pai. A rejeição por este da relação que ela
tem com o namorado e a ameaça de a deserdar, claro. Uma fortuna como a do pai
não será uma coisa a desprezar… Pelo contrário, o Rui parecia estar
relativamente de bem com o pai, é verdade. Mas valerá a pena investigar isso
mais profundamente, tal como o estado das suas finanças.
– A pistola era do Rui, é um facto –
continuou a Júlia. – Claro que teria sido possível à Susana tirá-la do estojo
sem que ele desse por isso, por exemplo naquela manhã, quando o irmão estivesse
na casa de banho. Mas porque é que a iria esconder a seguir ao crime num sítio
onde guardava artigos pessoais seus? Era de supor que seria encontrada numa
busca que a Polícia fizesse, e isso iria dirigir suspeitas sobre si própria.
Deixá-la em qualquer outro sítio, até mesmo no escritório, seria bem melhor…
– E a ausência de impressões digitais na
arma e o facto de em nenhum deles terem sido detetados indícios de pólvora? –
perguntou o inspetor.
– A circunstância de a pistola não ter
impressões digitais significa que qualquer dos dois a poderá ter usado,
limpando-a a seguir. E qualquer deles poderá ter lavado cuidadosamente as mãos
e os braços depois do crime. Tiveram tempo para isso…
– Significará a tua conclusão que de
alguma forma simpatizas com a Susana, por ela ser mulher e fisicamente
frágil?... – ironizou o inspetor. – Olha que já encontrei casos de mulheres
minúsculas a cometerem assassínios…
– Não, tio. Mas é precisamente por ela
ser muito pequena.
– Como assim?! – repetiu o inspetor.
– Porque, com o metro e sessenta que ela
tem, lhe teria sido impossível atingir o pai, sentado à secretária, com um tiro
no alto da cabeça.
– Ora, ora! – O inspetor despediu o
argumento da sobrinha com um gesto de uma mão, enquanto se agachava e, com a
outra, usava o cachimbo com o braço esticado, simulando segurar uma arma à
frente da cara, a disparar para o alto da cabeça da Júlia.
– Não, não, tio! Do outro lado da
secretária, o tiro teria que ser dado a uns dois metros de distância, não menos
que metro e meio. Certamente com o velho ligeiramente dobrado para a frente,
pelo espanto de ver uma pistola apontada a ele, mais ou menos como eu estou.
Mantendo-se agachado, o inspetor
afastou-se um passo da sobrinha.
– Pois, daí… Mas note que seria
impossível que esse disparo pudesse levar a bala a alojar-se no topo da pequena
lomba da zona dos rins da cadeira onde estava o morto – continuou Júlia,
calmamente, sorrindo com a surpresa estampada na cara do tio – o que aconteceria
com certeza se o tiro fosse disparado pelo Rui, com os seus dois metros de
altura…
Muito bem👏
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