sábado, 2 de agosto de 2025

A página dos Enigmas nº 119


Apresenta-se, de seguida, a solução do problema nº 7 do Torneio do Cinquentenário de Mistério Policiário, apresentada pelo autor do problema.

O ASSASSINATO DO VELHO MILIONÁRIO, de Rigor Mortis

SOLUÇÃO DE AUTOR

– Como assim?! – questionou o inspetor. De pé, acendeu o cachimbo enquanto olhava intensamente para a sobrinha, sentada na poltrona.

– Bom… Dos dois, a Susana é a que parece ter motivos para desejar a morte do pai. A rejeição por este da relação que ela tem com o namorado e a ameaça de a deserdar, claro. Uma fortuna como a do pai não será uma coisa a desprezar… Pelo contrário, o Rui parecia estar relativamente de bem com o pai, é verdade. Mas valerá a pena investigar isso mais profundamente, tal como o estado das suas finanças.

– A pistola era do Rui, é um facto – continuou a Júlia. – Claro que teria sido possível à Susana tirá-la do estojo sem que ele desse por isso, por exemplo naquela manhã, quando o irmão estivesse na casa de banho. Mas porque é que a iria esconder a seguir ao crime num sítio onde guardava artigos pessoais seus? Era de supor que seria encontrada numa busca que a Polícia fizesse, e isso iria dirigir suspeitas sobre si própria. Deixá-la em qualquer outro sítio, até mesmo no escritório, seria bem melhor…

– E a ausência de impressões digitais na arma e o facto de em nenhum deles terem sido detetados indícios de pólvora? – perguntou o inspetor.

– A circunstância de a pistola não ter impressões digitais significa que qualquer dos dois a poderá ter usado, limpando-a a seguir. E qualquer deles poderá ter lavado cuidadosamente as mãos e os braços depois do crime. Tiveram tempo para isso…

– Significará a tua conclusão que de alguma forma simpatizas com a Susana, por ela ser mulher e fisicamente frágil?... – ironizou o inspetor. – Olha que já encontrei casos de mulheres minúsculas a cometerem assassínios…

– Não, tio. Mas é precisamente por ela ser muito pequena.

– Como assim?! – repetiu o inspetor.

– Porque, com o metro e sessenta que ela tem, lhe teria sido impossível atingir o pai, sentado à secretária, com um tiro no alto da cabeça.

– Ora, ora! – O inspetor despediu o argumento da sobrinha com um gesto de uma mão, enquanto se agachava e, com a outra, usava o cachimbo com o braço esticado, simulando segurar uma arma à frente da cara, a disparar para o alto da cabeça da Júlia.

– Não, não, tio! Do outro lado da secretária, o tiro teria que ser dado a uns dois metros de distância, não menos que metro e meio. Certamente com o velho ligeiramente dobrado para a frente, pelo espanto de ver uma pistola apontada a ele, mais ou menos como eu estou.

Mantendo-se agachado, o inspetor afastou-se um passo da sobrinha.

– Pois, daí… Mas note que seria impossível que esse disparo pudesse levar a bala a alojar-se no topo da pequena lomba da zona dos rins da cadeira onde estava o morto – continuou Júlia, calmamente, sorrindo com a surpresa estampada na cara do tio – o que aconteceria com certeza se o tiro fosse disparado pelo Rui, com os seus dois metros de altura…

 

 


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